quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Daqueles dias

Tem aqueles dias
Aqueles dias assim...
Meio assim assado
Quando você se sente suspensa
Eu paro para pensar no que eu fui e no que eu sou.
E me pergunto: quanta coisa mudou?
De fato, consigo observar mudanças físicas
E algumas intelectuais.
Reparo que congelei em alguns lugares
E abri a boca para o mundo em tantos outros.
Silenciei as minhas críticas mais duras.
(inclusive as autocríticas que me batiam tanto)
E pude entender melhor o peso das palavras.
Palavra tem peso.
Daqueles que nem sempre se carrega numa sacola de supermercado.
Um peso que bate direto no coração.
Na dor de ser e na realização de aguentar carregá-lo.
Quem eu fui e quem eu sou, me importa.
Mas não o suficiente para eu deixar de seguir tentando. 

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Sobre o apego

A festa foi ótima.
O sangue vai esfriando e os pés começam a latejar um pouco, mas foi bom ter dançado a noite inteira.
Bateu aquela tonturinha padrão depois da saidera já na luz do dia, mas o pedaço da pizza na padaria vai rebater.
No táxi, quase chegando em casa, o pensamento começa a querer ir para outro lugar.
A placa de aluga-se no prédio baixinho de sacadas verdes distrai a cabeça e saltam aos olhos algumas peculiares que não havia observado antes.
Talvez porque faz tempo que aquele caminho não é percorrido durante o dia.
Já é dia.
Merda.
O sono vai demorar para chegar.
Um pouco de dificuldade para acertar a chave na fechadura, mas entramos com sucesso.
Os pássaros cantam animados contrastando com o que se vê no espelho: rímel borrado, cara de derrota e sono.
Banho.
Acalmar o corpo vai ajudar a dormir.
Na cama, olhando para o espaço vazio do lado esquerdo, vem aquela sensação conhecida:
Você não queria voltar para casa - mais uma vez - sozinha.
Começa a se tocar porque talvez gozar antes de dormir seja uma boa ideia.
O sono chega mais rápido.
6 horas depois os olhos se abrem atentos.
Você até tenta dormir de novo, mas o dia está acontecendo.
Domingo tem o incrível poder de te lembrar de tudo o que se foi.

O dia amanheceu silencioso, estava frio e você acordou com um bom dia e uma gozada.
Domingo tinha o incrível poder de ser aconchegante.
O café da manhã ficou pronto enquanto você estava no banho.
Empolgados com os sabores na mesa, vocês começaram a planejar o almoço.
Sem pressa.
Ainda eram 11h da manhã e nada melhor do que voltar pra cama de barriga cheia.
No supermercado, aumentaram a receita e decidiram fazer, também, uns bolinhos para o fim do dia.
Quando acordou do cochilo pós sexo, percebeu que já era noite de novo.
Bateu fome e preguiça de ir embora.
Começar a semana seria duro depois de um dia tão carinhoso.

Mas você precisa começar o domingo.
Este do tempo presente.
Sozinha.
Sem café da manhã.
Sem sexo.
Sem planos para o almoço, muito menos para o lanche da noite.
Quando a vontade de entrar para dentro de si mesma começou a chegar você saiu e lembrou da armadilha da saudade: ela sempre faz o que foi melhor do que era.
Os pássaros não cantam mais.
Quem escolhe o que vai ouvir é você.
Aproveite e se ouça.

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Uma metáfora sobre o amor

O peso do tempo é outro às segundas-feiras.
Percebi nesta segunda quando me dei conta que ontem não me atentei ao relógio.
Não sei dizer a hora que acordei, nem a hora que almocei, nem a que horas fui dormir.
Mas nunca vou esquecer da luz que batia na janela enquanto você lia no sofá.
Também sei narrar tudo o que aconteceu no caminho até a padaria.
E as milhões de possibilidades para se salvar no caso de uma invasão zumbi.
(e eu nem gosto de zumbi, mas agradeço as dicas)
Lembro dos 4 sustos que você me deu durante o dia.
E de cada vez que me peguei rindo sozinha quando me dava conta de que sou feliz.
Às vezes eu tenho que concordar com Nietzsche e aceitar que, na verdade, amo a sensação que você me causa.
Mas tenho certeza que isso só acontece porque é você do outro lado.
E amo ver essa pessoa que existe em mim quando estou com você.
E gosto muito quando ela aparece na minha fala, na minha vontade de ir e de ficar.
Também gosto dessa pessoa que você é quando está comigo.
Me sinto bem por estarmos no mesmo tempo.
E na mesma casa.
E na mesma cama.
E com a mesma vontade de fazer dar certo mesmo quando tudo dá errado.
Cada nota da nossa trilha sonora.
E cada poesia que eu suspiro antes de dormir.
O peso da existência é mais leve quando você existe na minha vida.

quinta-feira, 14 de março de 2019

Quando a gente descobre o amor

O que determina o exato momento que o amor acontece?
Será que pode ser medido?
Será que é definido?
Será que existe mesmo?
Será que provarei um dia?
Desse amor que se fala nos livros, nos filmes, nas fotos da internet...
Será?
Será que vou pensar em "pra sempre"?
Ou será que vou fugir pra sempre?
Ou pior: será que vou guardar pra sempre o tanto de amor que há em mim?
Só pra mim.
Só pra minha imaginação se perder nos labirintos dos meus desejos.
Só pra me inspirar a escrever emoções.
Só pra me fazer questionar:
Quando a gente descobre o amor?

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Uma música sem melodia

A gente se rasga
Se conserta
E sorri porque o dia amanheceu
Parece até que a vida é boa
Parece que o amor valeu.

A ladeira lá de casa
Não é pra qualquer um subir
Mas a gente não se cansa
E sobe até dançando
A gente sente que o mundo é a gente
E pra vida a gente tá pronto mais uma vez

E quando acabar
Eu imprimo aquela foto
Só pra te encontrar
E ter onde escrever
Um último poema
Sobre o nosso amor

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Quase 14

Hoje me dei conta que este ano vai completar 14 anos que meu pai foi embora.
Embora pra sempre.
Em matéria.
Não em espaço.
Porque uma vez que habitou, sempre será aquele lugar na mesa de jantar.
E aquela piada entre um assunto e outro.
A lembrança que vira e mexe volta na mente de tanta gente.
"A pessoa mais engraçada que eu já conheci", eles dizem.
Memórias.
Mas hoje, ao me dar conta do tempo que passou, percebi que é muito.
Em 14 anos eu poderia ter tido um filho que hoje seria adolescente.
Me graduei, pós-graduei, intercambiei.
Amei, desamei.
Cai, levantei.
Virei tia.
Fui madrinha de casamento algumas vezes.
Passei por - pelo menos - uma dezena de empregos.
Realizei.
Viajei.
E lembrei dele quase todos os dias.
Sempre aquele quentinho no coração.
Aquela sensação de "como seria se..."
Sonhei realidades fantasiosas da gente passeando por aí.
E todas as vezes acordei um ser humano melhor para o mundo.

Hoje me dei conta que daqui a pouco completará 14 anos que meu pai foi embora.
E que em 14 anos cabe uma vida inteira.
De saudade.


terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Dias

Os meus dias são pontuados pela quantidade de tempo que falta para o salário cair.
Em quanto tempo meu cartão vai virar.
E se meu pacote de dados vai durar até a próxima renovação.
Podia ser triste.
Mas é só mecânico.
Ou talvez seja triste e eu prefira entender que não.
O tempo ser contado por questões práticas e burocráticas.
E as contas?
Só dia 20.
Menos o telefone, que é dia 25.
É bom quando se pode contar o tempo por outro tipo de espera.
A espera de saber quando você chega, por exemplo.
Quando você volta de viagem.
Quando a gente vai se encontrar pela primeira vez.
Ou pela última.
Seria bom contar o tempo pela quantidade de horas seguidas que estamos juntos.
Pelas garrafas de cerveja acumuladas no lixo depois de um jantar com amigos.
Ou pelas horas que poderemos dormir sem se preocupar com o despertador.
Se dar conta de quanto tempo já estamos juntos.
Sem que isso seja pesado ou leve demais.
Saber que o tempo foi preenchido.
Que os dias não passaram em branco.
Que as horas não foram vãs.
E que todo o momento foi único e concreto.
Existiram além de fotos e palavras.
Foram eternizados dentro da gente.
De maneira que o tempo não possa ser contado.
E os meus dias sejam pontuados por sensações.